Diogo Ribeiro sagrou-se tricampeão mundial de natação, tendo pulverizado o recorde mundial de juniores nos 50 metros mariposa. A devida vénia, claro está. No entanto, sem prejuízo do mérito individual do nadador e equipe técnica, há que sublinhar o investimento do governo na modalidade. Num país cada vez mais a meter água, daqui por duas ou três gerações, a acreditar no evolucionismo darwinista, os portugueses já devem nascer com guelras. Mais rápidos e majestosos na água que os portugueses, muito provavelmente, só as prostitutas de Veneza… Aliás, na arte xávega e piscicultura, somos pioneiros nesse ser híbrido que é o carapau de corrida, treinado nas melhores academias do país para sobreviver aos predadores dos mares, ao melhor estilo David contra Golias.
Há igualmente, um conjunto de modalidades que, a merecer crivo olímpico, limpávamos de caras. Com efeito não há no universo, opositor à altura no emborcar minis de golada, na raspadinha contra-relógio, no lançamento do escarro e no número de ligações familiares nos governos socialistas. Em qualquer uma delas, é abada garantida! Aliás, a verdade é que desde a queda do Império, somos um povo um pouco desacreditado internacionalmente. Anda tudo na moda a falar de géneros alternativos, transgéneros e cenas do género, quando há muito, cá pelo burgo, pululam seres híbridos de características não completamente especificadas ou distintivas, mas manipulados pelos ADN, pelas circunstâncias de vida ou por obrigações partidárias. São eles os chico-espertos. Com efeito, para se ser um chico-esperto não carece nem de ser Chico, nem de ser esperto. Pode ser um António ou uma Maria e burro que nem um cepo, que a malta concede-lhe o título sem problemas. Não há cá essas mariquices do “acho que”, “sinto-me” ou outros estados de alma. Um tipo quer ser chico-esperto e é-o, sem mais, como se a condição lhe tivesse saído num pacote de Nestum. Ninguém contesta, ninguém questiona e ninguém lhe vem falar de Mendel ou da biologia. Por norma, o chico-esperto é um gajo porreiro, que vive de uma certa empatia social, até porque esta é condição de sobrevivência. Ainda que a característica seja particular, só tem utilidade em contexto social. Numa ilha deserta não haveria um chico-esperto por manifesta inutilidade. O chico-esperto faz-se à custa dos outros.
Os mafiosos pertencem a uma organização, com regras e código de conduta próprios, numa estrutura hierarquizada, explorando a ilegalidade, vivendo no submundo e cumprindo sentenças de morte.
Um bom chico-esperto actua sozinho, fazendo alianças apenas quando convém aos seus interesses e desfazendo-as com a mesma ligeireza e desprezo, imputando as culpas aos outros. Se os mafiosos são executores, vivendo do temor alheio, os chico-espertos são uma espécie de mágicos que arranca aplausos à chusma. Vive de truques e ilusões e cativa os tontos, os distraídos e os sonhadores, dispondo o palco, escolhendo os adereços e direccionando os holofotes para que o truque não seja descoberto.
Anuncia a descida da taxa do IVA na electricidade, e a multidão rejubila. De fora ficam os consumos acima de determinada medida, o gás e a nuance de que só aplicável até determinadas potências contratadas e que, mesmo para estas, a poupança real é, no máximo um euro e dez cêntimos.
Oferece um café a cada três dias, mas a malta está em êxtase convertendo mentalmente 125 euros em não sei quantas raspadinhas…
Dá, de borla, 50 euros por descendente e andamos todos a amaldiçoar não termos procriado que nem coelhos no passado, ainda que o pecúlio represente pouco mais de treze cêntimos por dia…
Põe nos nossos bolsos meia pensão, levando-nos ao êxtase, quando nos compromete os aumentos em montantes de grandeza bem maior…
Coloca todo um país de joelhos, a aclamar o Deus da prosperidade face a um pacote de 2,4 mil milhões de euros, esquecido de que esse mesmo Deus enterrou 3 mil milhões numa companhia falida e que não pára de dar prejuízos…
Mas a turbe não quer fazer contas. A turbe quer é magia, achando que os euros caem do céu, ainda que não perceba que estes saem dos seus bolsos…
Poder-se-ia explicar à turbe que as oferendas só foram possíveis porque em sede de impostos se arrecadou mais do dobro do que agora se “devolve”. Poder-se-ia fazer desenhos e gráficos a demonstrar que as políticas certas passariam pela baixa de impostos, isenções de algumas taxas e reformulação dos escalões de rendimentos, protegendo os pensionistas e mais necessitados de uma forma bem mais efectiva. Poder-se-ia asseverar que este dinheiro que se lhes dá vai ser gasto em bens de consumo, sujeitos a tributação, ou seja, que o estado vai acabar por reaver grande parte do que aparentemente dá.
Poder-se-ia mostrar as comparações com as medidas adoptadas nos outros países para que esta percebesse a dimensão do erro.
Poder-se-ia citar todos os economistas de renome que atacam ferozmente o engodo do Governo.
Mas a turbe não quer saber. A turbe crê no mágico, nos espelhos e acha que os coelhos nascem das cartolas.
A turbe gosta tanto de chico-espertos que lhes dá o país como palco… ■