Hoje, terça-feira, dia em que O DIABO chega às bancas, milhões de cidadãos dos Estados Unidos da América vão escolher quem desejam que seja nomeado como candidato republicano e como candidato democrático à Presidência da república mais poderosa do planeta.
Nos Estados Unidos, onde as máquinas partidárias não são tão poderosas como na Europa (e especialmente em Portugal), os nomeados pelos partidos para concorrerem ao cargo de Presidente dos Estados Unidos são escolhidos por delegados eleitos por voto popular. A única excepção a este caso são os “super-delegados” do Partido Democrático dos EUA, que podem votar como quiserem.
A nomeação por um dos dois principais partidos dos EUA é literalmente meio caminho andado para a Presidência, pois nenhuma outra organização no país tem o poder de fazer campanha em todos os 50 Estados da união americana. Todos os presidentes desde 1860 foram nomeados ou pelos republicanos ou pelos democratas, logo sabe-se que um dos dois nomeados será certamente Presidente dos Estados Unidos.
À data do fecho desta edição, Donald Trump, o controverso magnata do imobiliário, lidera a eleição primária republicana, com 81 delegados já garantidos, mais do que os dos seus adversários todos juntos. No entanto, precisa de 1.237 delegados para vencer a nomeação, logo esta ainda está longe de conquistada.
A Constituição dos Estados Unidos determina que será Presidente quem conquistar uma maioria absoluta dos votos eleitorais em disputa. Em caso de nenhum candidato o conseguir, então o texto supremo da República Americana determina que o vencedor será escolhido pela Câmara dos Representantes a partir dos três candidatos que conseguiram o melhor resultado. O voto é feito por delegação estatal, em vez de cada deputado ter um voto; ou seja, 26 votos ganham a presidência. O Senado, por sua vez, tem a função de eleger o Vice-Presidente. Vários historiadores consideram que os autores da Constituição tinham uma ideia mais “parlamentarista” da eleição presidencial, e que o sufrágio apenas serviria para nomear candidatos para o Congresso depois escolher. No entanto, na história dos EUA apenas houve um caso em que as eleições presidenciais foram decididas desta forma, em 1822. Esta particularidade é apontada como umas das causas para apenas existirem dois grandes partidos nos Estados Unidos.
Não está determinado em parte alguma da Constituição que o Presidente é eleito pelo povo. Cada Estado tem direito a um número de grandes eleitores, os cidadãos que elegem o Presidente (538 no total). Inicialmente, a maioria dos grandes eleitores eram escolhidos pelas legislaturas locais e não pela população. Só depois da guerra civil é que, por convenção e não por lei, os Estados passaram a eleger os grandes eleitores através de sufrágio directo, e através do sistema “vencedor ganha tudo” (winner takes all) no qual o candidato que tiver 50 por cento mais um voto ganha todos os grandes eleitores daquele Estado. Nada impede, no entanto, um Estado de mudar a qualquer altura o seu processo de nomeação de grandes eleitores.
Os seus principais adversários são Rafael “Ted” Cruz, da ala religiosa e conservadora do Partido Republicano, e Marco Rubio, elemento mais moderado e apontado como favorito pelas figuras mais importantes do partido para ser a alternativa a Trump. Também na corrida está John Kasich, uma figura mais centrista, mas que não conseguiu conquistar um significativo apoio popular, e Ben Carson, o neurocirurgião que ficou conhecido pelas suas opiniões ultra-religiosas.
Donald Trump é considerado o grande agitador da corrida republicana. Algumas das suas propostas incluem a deportação de milhões de imigrantes hispânicos, a construção de um muro na vasta fronteira dos EUA com o México que, segundo o próprio, seria pago pelo Governo mexicano, e a aplicação de uma pesada taxa alfandegária sobre os produtos importados da China.
Apesar de os republicanos moderados discutirem frequentemente sobre como derrotar Trump, o cam- po moderado encontra-se dividido e enfraquecido por um enorme descontentamento popular com os políticos de carreira. O Congresso dos EUA tem uma taxa de aprovação extremamente baixa, entre os 9 e os 11 por cento. Os americanos consideram as baratas, os vendedores de carros usados, os exames à próstata, os engarrafamentos trânsito e os árbitros de futebol infinitamente mais agradáveis do que os legisladores em Washington. Segundo a conceituada empresa de estudos de opinião Rasmussen, 61 por cento dos norte-americanos consideram que os políticos de carreira são corruptos e que vendem o seu voto aos grupos de pressão.
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