No último Sábado, dia 27 de Fevereiro, os 40 anos de vida d’O DIABO foram assinalados com uma conferência na Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Participaram Jorge Morais, Pedro Soares Martínez, Duarte Branquinho, Humberto Nuno de Oliveira, Brandão Ferreira, Eduardo Brito Coelho, Manuel Bernardo e Miguel Mattos Chaves. No final do encontro, que encheu o salão da SHIP, o Director d’O DIABO, Duarte Branquinho, passou o testemunho ao novo timoneiro do jornal, Miguel Mattos Chaves.
Foi uma sessão memorável, em que às reflexões sobre Portugal se juntaram recordações e planos para o futuro. A tarde na Sociedade Histórica, de que foi anfitrião o presidente da Assembleia-Geral da vetusta instituição, o General Baptista Pereira, destinava-se antes de mais a assinalar o 40º aniversário do nosso jornal. O salão estava cheio e a quase totalidade dos colaboradores do nosso jornal marcou presença, desde os mais jovens (como o jurista Nuno Gonçalo Poças) aos mais veteranos (como o nonagenário Vasco Callixto, referência incontornável do Jornalismo português), passando pela geração do filósofo e professor universitário Renato Epifânio, membro da direcção da revista ‘Nova Águia’ e presidente do Movimento Internacional Lusófono.
Do passado d’O DIABO começou por ocupar-se o escritor Jorge de Morais, que como jornalista acompanhou por dentro os nossos primeiros passos – num período em que, como recordou, “ainda se respiravam os gases tóxicos do PREC, mesmo que disfarçados com cheirinhos de democracia”.
Com o dealbar da pseudo-democrática III República portuguesa e a entrada em funções do “pantanoso” I Governo Constitucional, ao revolucionarismo comunista seguiu-se a acomodação da “esquerda caviar”, como sublinhou o orador. Surgindo numa altura em que o poder político estava ainda tutelado por um Conselho da Revolução, O DIABO tomou o sabor das “amplas liberdades” logo à sua segunda semana de publicação, ao ser suspenso por se assumir como “contra-revolucionário”. E quando, ao fim de um ano, por ordem dos tribunais, pôde por fim retomar a publicação (até hoje ininterrupta), viu-se “sorrateiramente apagado pelo silêncio” imposto por um sistema “politicamente correcto” que destrói e oprime a portugalidade e o amor à Nação.
Maria Armanda Falcão, que nos anais do jornalismo ficou como Vera Lagoa, o seu “nom de plume”, foi a figura central da intervenção de Jorge de Morais, que no entanto fez larga referência ao “braço-direito” da fundadora, o jornalista José Rebordão Esteves Pinto. De origens republicanas, Maria Armanda cresceu como democrata e defensora do livre pensamento e da generosidade cívica, e sempre defendeu os seus ideais com coragem e verticalidade, segundo recordou Jorge de Morais.
Em artigo recente publicado no nosso jornal, este antigo chefe de Redacção-adjunto d’O DIABO afirmava que a fundadora do jornal “viveu o 25 de Abril em festa, o 26 em dúvida e o 27 em angústia”, quando as promessas de liberdade e democracia se esfumaram num ambiente de corrupção e oportunismo dominado pela mitologia comunista. “O 25 de Novembro não foi levado até ao fim”, afirmou o histórico jornalista na sessão de Sábado passado.
Foi a “necessidade de uma intervenção mais profunda da imprensa livre na vida pública” que levou Vera Lagoa a fundar O DIABO com José Rebordão Esteves Pinto, ampliando o projecto jornalístico a uma acção cívica de que foram exemplo as manifestações do 1º de Dezembro e do 10 de Junho. Por tudo isto, sublinhou Morais, ambos “ficarão nas actas da vida política portuguesa das últimas décadas”.
Continuar a luta
Na sua intervenção, o Director d’O DIABO, Duarte Branquinho, começou por recordar a crise que, em determinada altura, se abateu sobre o nosso jornal e fez perigar a sua existência. “O DIABO parecia definhar, e para aquelas pessoas que gostam de ter certezas absolutas, o jornal tinha os dias contados. Mas isso não aconteceu”. Foi nesse período difícil que Duarte Branquinho assumiu a Direcção. Na hora de crise, mais uma vez se conjugaram as vontades dos patriotas e nacionalistas, que apoiaram O DIABO e o seu novo Director, e assim chegámos ao dia de hoje “com a mesma força de outrora”. O jornal sobreviveu, e continua vivo mesmo face à terrível situação económica nacional, sem nunca perder de vista o seu papel de defesa da Pátria.
Para Branquinho, não deixa de ser irónico ter acabado por dirigir um semanário que foi fundado quando tinha apenas dois anos e o acompanhou ao longo da infância. E recordou: “recortava os cartoons do Augusto Cid, que depois colava em folhas de papel e fazia o meu jornal”. E com um sorriso rasgado, comentou: “mal sabia eu a tarefa que ia caber-me tantos anos depois”.
Essa missão, que Duarte Branquinho tem desempenhado com talento e firmeza, está a chegar ao fim após exactamente cinco anos: a primeira edição dirigida por si saiu a 1 de Março de 2011, a última sai a 1 de Março de 2016. Para gravar a sua passagem por um jornal tão único, Branquinho reuniu em livro uma selecção dos editoriais publicados ao longo dos seus cinco anos como director d’O DIABO.
A obra, intitulada “Ideias em Contracorrente”, foi apresentada durante a sessão na Sociedade História pelo nosso colaborador Humberto Nuno de Oliveira. “Todos aqueles que colaboramos n’O DIABO sentimos que o jornal manteve o seu fulgor”, afirmou Humberto Nuno, considerando que a missão do jornal continua, na tarefa de “desmascarar aqueles que se servem do poder para os seus próprios interesses, aqueles que foram condecorados como heróis, mas que foram, na verdade, traidores”.
A verdadeira liberdade
Ao longo da tarde, uma das palavras mais usadas foi “liberdade”, a verdadeira liberdade lusitana, não aquela de que nos querem vender um modelo pronto-a-usar importado de outras terras. “Os ensinamentos de Portugal são preciosos”, afirmou o professor Pedro Soares Martínez numa das intervenções mais aplaudidas da tarde. O insigne Catedrático notou, no entanto, que tais ensinamentos “não são ouvidos por aqueles que nos governam e que estão convencidos de que o aperfeiçoamento português depende de seguir os exemplos alheios”. O resultado, segundo o professor Martínez, é que “aquilo a que alguns chamam liberdade não assenta nem nas nossas medidas nem nos nossos hábitos”. E concluiu: “nós temos é de sustentar as liberdades portuguesas”.
Para Duarte Branquinho, que também se referiu a este aspecto, o comportamento das elites políticas é planeado: “querem que cada vez mais deixemos de pensar”. Sendo um jornal associado às várias direitas, O DIABO navega em contra-ciclo com as “verdades” da III República, razão pela qual é constantemente ostracizado. “Quando alguém se diz de esquerda, geralmente não faz ideia do que está a dizer politicamente, mas sabe que isso cai bem, que abre portas, que fica bem”.
Humberto Nuno de Oliveira notou, no entanto, que “Duarte Branquinho procurou não ligar muito a esses autocolantes de ideologias que são habitualmente colados na testa das pessoas”.
“A classe assaltante do poder conseguiu encostar a direita à parede durante 40 anos, e a direita deixou, com medo de ser chamada fascista”, afirmou por seu turno Miguel Mattos Chaves, que sucede a Duarte Branquinho como director do semanário O DIABO, e que considera que a história da fundação da III república “é uma bela história que nos contam, mas o que é facto é que Portugal foi destruído por causa disso”.
A imprensa livre, constitucionalmente garantida mas depois oprimida por outros meios, está cada vez mais controlada pelo poder, razão pelo qual Brandão Ferreira considerou que “jornais como O DIABO parecem-me ser uma espécie em vias de extinção”. No nosso caso concreto, por ser “um semanário que diz não à deslealdade, à mentira, à injustiça, à traição” e que faz oposição a “um regime que transformou a vida em sociedade num conjunto de negócios”. E acrescentou: para a História, o que irá ficar é que “a imagem de marca deste regime é o aumento constante da perversão e da criminalidade, e das prisões a abarrotar”.
Em foco, nas várias intervenções ao longo da tarde de Sábado passado, esteve a necessidade de resistência à destruição dos pilares da sociedade portuguesa, em particular a instituição militar. Falando na segunda parte da sessão, o Coronel Manuel Bernardo aplaudiu que, após tantos anos, o jornal continue a “elucidar os leitores com temas importantes, nomeadamente sobre as forças armadas”.
Esperança para o futuro
Críticos do actual estado de coisas, mas sempre defensores de Portugal e da sua grandeza, os oradores do painel da conferência coincidiram na mensagem de esperança. O Professor Mattos Chaves apresentou a sua visão do que poderão ser as grandes oportunidades estratégicas e económicas da Nação portuguesa, e que nos poderão conduzir à prosperidade – algo que segue em linha com as ideias e propostas que o professor sempre defendeu nas páginas do nosso semanário. “Temos dificuldades para ultrapassar, mas abre-se um novo mundo de oportunidades para Portugal”, considerou Miguel Mattos Chaves. “Vamos para a frente”, foi a mensagem de força que o novo director d’O DIABO deixou no seu discurso.
“Portugal vai continuar”, declarou Soares Martínez, levantando a sala num forte aplauso. De Humberto Nuno de Oliveira ficou uma mensagem de apoio ao nosso jornal: “O DIABO não abdicará do amor a Portugal, que obviamente se lê, se sente e se transmite nas páginas do jornal”. Brandão Ferreira apelou a que se diga sim “à verdade, à moral, aos valores da antiga matriz moral portuguesa que são os de sempre” e que, assim, se diga “sim a Portugal”. Também Eduardo Brito Coelho deixou um conjunto de pontos sobre o que deve ser o plano de combate d’O DIABO, no sentido de defender a nacionalidade e a independência portuguesa.
E, por fim, a encerrar de um ciclo e a assinalar o início de um novo, Duarte Branquinho deixou a sua mensagem ao novo director: “Miguel, meu caro amigo, bom trabalho, e a melhor das sortes”.